Os recentes despedimentos na Teleperformance (200 empregos) e na Microsoft Portugal (68 empregos) podem já refletir o crescente impacto da inteligência artificial (IA) no mercado de trabalho, particularmente no setor dos call centers, de acordo com economistas entrevistados pela Lusa.
O economista João Cerejeira da Universidade do Minho apontou vários fatores contribuintes - um crescimento lento na Europa Central, especialmente na Alemanha, bem como empresas à procura de mercados de custos mais baixos e o aumento da automação no atendimento ao cliente. Ele notou que “grande parte desses serviços começa a ser substituída por tecnologia associada à inteligência artificial.”
Pedro Martins, professor na Nova School of Business and Economics e ex-Secretário de Estado, concordou que a IA pode remodelar profundamente os call centers, afirmando que “vários estudos já indicam que os call centers podem beneficiar muito da IA - não apenas complementando a produtividade dos trabalhadores, mas também através da substituição.”
Apesar da disrupção tecnológica, ambos os economistas permanecem otimistas em relação ao mercado de trabalho português em geral, com o desemprego ainda em níveis historicamente baixos. Alertam, no entanto, que setores tradicionais como o têxtil e o calçado poderiam enfrentar maior pressão.
Ambos os especialistas sublinham a necessidade de políticas de formação profissional mais robustas para ajudar os trabalhadores a transitar para novos campos. “Portugal deve modernizar as suas políticas de emprego e formação,” disse Martins, “de modo que as pessoas possam regressar ao trabalho mais rapidamente, com competências que correspondam às necessidades do mercado.”