O CEO da Cloudflare, Matthew Prince, criticou publicamente o governo português por não cumprir as promessas feitas a investidores tecnológicos internacionais, citando atrasos nos vistos e burocracia excessiva como obstáculos principais à ambição do país de se tornar um verdadeiro hub tecnológico.
“Os governos dos últimos seis anos não estão a levar a sério a transformação de Portugal num verdadeiro hub tecnológico”, disse Prince ao Observador, acrescentando que Lisboa está a ser reconsiderada como a sede europeia da empresa devido a desafios operacionais persistentes. “Não posso investir se não posso ter pessoas a vir para Portugal para treinar as equipas,” afirmou.
Prince, que recentemente chamou Portugal de “país pouco sério” na plataforma social X, afirmou que a Cloudflare tem 15 casos de renovação de vistos “pendentes há anos” e funcionários em limbo devido a autorizações de residência expiradas. Apesar dos esforços para acelerar a questão, ele afirma que “em todos os níveis o governo português me decepcionou.”
A Cloudflare tem um escritório em Lisboa desde 2018 e investiu milhões de euros no país, incluindo planos para contratar pelo menos 100 novos funcionários—mais de metade deles cidadãos portugueses. No entanto, Prince afirma que a escala do investimento poderia ter sido “o dobro” se o governo tivesse cumprido os compromissos de agilizar a imigração e reduzir a burocracia.
Ele também refutou alegações de receber incentivos fiscais ou de estar envolvido num incidente no aeródromo de Tires, chamando este último de “sem fundamento factual.” Segundo Prince, a escolha da Cloudflare por Portugal foi motivada pelo seu pool de talentos—não por vantagens fiscais.
Embora a empresa mantenha o seu escritório em Lisboa, o seu status como sede europeia continua incerto. “Não vamos fechar o escritório,” confirmou Prince. “Mas não sei se posso comprometer-me a aumentar o número de funcionários para 1.000.”
Prince também revelou que parou de recomendar Portugal a outras empresas há três anos. “Tem os ingredientes certos, mas problemas sérios,” disse. “Até que sejam resolvidos, recomendo cautela.”